domingo, janeiro 23, 2011

andavas comigo no indizível. de mãos dadas.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

invisiblestories:

Jannis Kounellis

encontrado num dos meus blogues preferidos http://bookshelfporn.com/

desde que li "A casa de papel" esta é uma possibilidade que não me sai dos sonhos...

domingo, janeiro 16, 2011

não quero ter a terrível
limitação
de quem vive apenas
do que é passível de fazer sentido.
eu não:
quero é uma verdade inventada.


clarice lispector

segunda-feira, janeiro 10, 2011

cortando o mar, cortando o ar...

cortando ainda.

sexta-feira, janeiro 07, 2011

O amor é o amor - e depois?!

Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?..

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!


Alexandre O´Neill

segunda-feira, janeiro 03, 2011

NEVOEIRO


Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo - fátuo encerra.


Ninguém sabe que coisa quer,
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...


É a hora!

Valete, Frates
Fernando Pessoa, Mensagem

quinta-feira, dezembro 30, 2010

As mais belas coisas do mundo
Valter Hugo Mãe
(custa-me um bocadinho escrever o nome dele assim, mas parece que voltou às maiúsculas...)

ofereci hoje este livro. depois de o ler. é lindo.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Pára-me de repente o pensamento

Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz do esquecimento.


Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado.
Pára e fica, e demora-se um momento.


Pára e fica, na doida correria.
Pára à beira do abismo, se demora.
E mergulha na noite escura e fria.


Um olhar de aço, que essa noite explora.
Mas a espora da dor seu flanco estria,
E ele galga e prossegue sob a espora...

Ângelo de Lima

terça-feira, dezembro 21, 2010

segunda-feira, dezembro 20, 2010

O SORRISO


Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
`
Eugénio de Andrade

quinta-feira, dezembro 09, 2010

Tempo haverá, tempo haverá
Para moldar um rosto com que enfrentar
Os rostos que encontrares

de um poema de que gosto muito de T.S. Eliot

quarta-feira, dezembro 08, 2010

descobri há pouco que foi a 8 de dezembro que a Florbela Espanca morreu. então fui ao baú buscar um poema que mudaria para sempre a minha vida, num passado tão distante...

Deixa-me ser a tua amiga, Amor,

A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa, a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascessemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei prà minha boca!...

quarta-feira, dezembro 01, 2010

sábado, novembro 27, 2010

sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste silêncio.

Al Berto


quarta-feira, novembro 24, 2010

Sei que me vês
Quando os teus olhos me ignoram
Quando por dentro eu sei que choram
Sabes de mim
Eu sou aquele que se esconde
Sabe de ti, sem saber onde
Vamos fazer o que ainda não foi feito
Trago-te em mim
Mesmo que chova no verão
Queres dizer sim, mas dizes não
Vamos fazer o que ainda não foi feito
E eu sou mais do que te invento
Tu és um mundo com mundos por dentro
E temos tanto pra contar
Vem nesta noite
Fomos tão longe a vida toda
Somos um beijo que demora
Porque amanhã é sempre tarde demais
E eu sei que dói
Sei como foi andares tão só por essa rua
As vozes que te chamam e tu na tua
Esse teu corpo é o teu porto, é o teu jeito
Vamos fazer o que ainda não foi feito
Sabes quem sou, para onde vou
A vida é curva, não uma linha
As portas que se fecham e eu na minha
A tua sombra é o lugar onde me deito
Vamos fazer o que ainda não foi feito
E eu sou mais do que te invento
Tu és um mundo com mundos por dentro
E temos tanto pra contar
Vem nesta noite
Fomos tão longe a vida toda
Somos um beijo que demora
Porque amanhã é sempre tarde demais
Tens uma estrada
Tenho uma mão cheia de nada
Somos um todo imperfeito
Tu és inteira e eu desfeito
Vamos fazer o que ainda não foi feito
E eu sou mais do que te invento
Tu és um mundo com mundos por dentro
E temos tanto pra contar
Vem nesta noite
Fomos tão longe a vida toda
Somos um beijo que demora
Porque amanhã é sempre tarde demais
Vem nesta noite
Fomos tão longe a vida toda
Somos um beijo que demora
Porque amanhã é sempre tarde demais
Porque amanhã é sempre tarde demais
Porque amanhã é sempre tarde demais
Porque amanhã é sempre tarde demais


Pedro Abrunhosa

terça-feira, novembro 23, 2010

deus tem que ser substituído rapidamente por poemas,
sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,
vivos e limpos.


a dor de todas as ruas vazias.


sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste
silêncio. e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abismo.
sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de acabar comigo mesmo.


a dor de todas as ruas vazias.


mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do
deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte e
dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu coração,
ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.


a dor de todas as ruas vazias.


pois bem, mário - o paraíso sabe-se que chega a lisboa na fragata do alfeite.
basta pôr uma lua nervosa no
cimo do mastro, e mandar arrear o velame.


é isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai sem
cadastro.


a dor de todas as ruas vazias.
sujo os olhos com sangue. chove torrencialmente. o
filme acabou. não nos conheceremos nunca.

a dor de todas as ruas vazias.


os poemas adormeceram no desassossego da idade.
fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais
curto. e, por vezes, ouço-os no transe da noite. assolam-me
as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas. ..e
nada escrevo.


o regresso à escrita terminou. a vida toda fodida - e
a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.


a dor de todas as ruas vazias.

Al Berto

segunda-feira, novembro 22, 2010

o céu é aquela clareira

o céu é aquela clareira
onde deito os olhos com ténues
cambiantes de cor que quase
gasto nas mãos, e como. como
o céu e aguardo uma
digestão convulsa. enquanto
o aguaceiro seca na terra antes que o
possa beber e deus se
vinga de mim ditando
os versos que escondem
a água ao mundo. já as
fogueiras florindo em volta,
murchando o dia que me
persegue. uma intervenção
divina para me resistir


valter hugo mãe
estou escondido na cor amarga do fim da tarde
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.


Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.


Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, novembro 18, 2010

Ai se eu pudesse falar
Dizia coisas agora
Que me faziam chorar
O melhor é ir-me embora

Ai se eu pudesse falar
Se não fosse proibido
O que tenho de calar
O que me está no sentido

O que distingue os poetas
Os faz diferentes da gente
É dizer em duas letras
O que toda a gente sente

É esta limitação
Que Deus me deu a escrever
Que enche o meu coração
De coisas para dizer

Amália Rodrigues

domingo, novembro 14, 2010

Penso que cultivo tensões
como flores
num bosque onde
ninguém vai.

Cada ferida — perfeita —,
fecha-se numa minúscula imperceptível pétala,
causando dor.

Dor é uma flor como aquela,
como esta,
como aquela,
como esta.


Robert Creeley