Quando Lisboa anoitece Como um veleiro sem velas, Alfama toda, parece Uma casa sem janelas Aonde o povo arrefece. É numa água-furtada, No espaço roubado à mágoa Que Alfama fica fechada Em quatro paredes d'água! Quatro paredes de pranto! Quatro muros d'ansiedade! Que à noite fazem o canto Que se acende na cidade! Fechada em seu desencanto, Alfama cheira a saudade! Alfama não cheira a Fado, Cheira povo, a solidão! Cheira a silêncio magoado! Sabe a tristeza com pão! Alfama não cheira a Fado Mas não tem outra canção!
(José Carlos Ary dos Santos )
segunda-feira, março 27, 2006
Hoje só um verso de um velho poema me ecoa:
no escuro só princípios...
que saudades!...
domingo, março 26, 2006
às vezes a lua cai em cima de nós parece que cai parece que sim
“vai lua volta para lá”
“vem lua olha por mim”
sabias, meu amor?
sábado, março 25, 2006
A conselho da Nádia Jururu (http://terraimunda.blogspot.com/) procurei saber o que fui numa vida passada! Fui informada de que fui "um artista que nasceu no ano de 35 a.C. na região onde hoje fica o Marrocos". Diziam-me ainda "Cômico, você nasceu para fazer a alegria dos outros, principalmente das crianças que, enfeitiçadas, olhavam para suas acrobacias nas ruas".
Só conto isto porque de manhã tinha tirado esta fotografia!!!
quarta-feira, março 22, 2006
Ontem foi Dia da Poesia! aos versos que não existem devo todos os dias um obrigada....
sexta-feira, março 17, 2006
Há imagens que não se percebem! Fazer o quê?! Mostrá-las!
quinta-feira, março 16, 2006
poderá chamar-se alegria?!
Espero-te Musa.
nas águas na estrada no céu nos versos
Espero-te Musa.
Quanto tempo falta para um verso lindo?
terça-feira, março 14, 2006
Com o balancear dos ramos primaveris vejo crescer vontades de criar um mundo outro de anseios e esperas. Nesse mundo não deixarei nunca de cobrir-te com beijos de oferecer-te pedras esculpidas pelo olhar com que te pensava. Reflicto nas mãos sensações de te saber viva pensando comigo. E estando aqui e assim não existe mais nada entre mim e os ramos entre o que penso e a primavera entre o meu corpo e os outros. Sei-te em cada poro da minha pele, em cada tacto de todos os meus sentidos. E lá fora os ramos balanceiam ao ritmo de quem os quer sentir.
domingo, março 12, 2006
BARCOS
"Nha terra e' quel piquinino E' Sao Vicente e' que di meu" Nas praias Da minha infância Morrem barcos Desmantelados. Fantasmas De pescadores Contrabandistas Desaparecidos Em qualquer vaga Nem eu sei onde.
E eu sou a mesma Tenho dez anos Brinco na areia Empunho os remos... Canto e sorrio... A embarcação Para o mar! E' para o mar!...
E o pobre barco O barco triste Cansado e frio Não se moveu...
(Yolanda Morazzo , Cabo Verde)
sexta-feira, março 10, 2006
haverá azul que chegue no mar para me ouvir? haverá lua que chegue para me prender? haverá mundo que chegue para mim?
quinta-feira, março 09, 2006
DIZER AMOR
Queria subir às palavras e gritá-las E ter o privilégio de inventar formas diferentes de dizer amor
(Manuela Amaral)
quarta-feira, março 08, 2006
Doem-me a cabeça e o universo...
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego)
terça-feira, março 07, 2006
Entre amarelos e o azul do céu, gosto tanto de olhar para cima em Lisboa!
segunda-feira, março 06, 2006
sinto que sou ninguém salvo uma sombra
de um vulto que não vejo e que me assombra
(Fernando Pessoa, Cancioneiro)
quinta-feira, março 02, 2006
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de todas as minhas sensações, Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical -- Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força -- Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro, Porque o presente é todo o passado e todo o futuro E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão, E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta, Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem, Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes, Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando, Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma. Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina! Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
(Ode Triunfal, excerto, Álvaro de Campos)
Não tenho a certeza de que todos os dias tenham 24 horas! E as horas têm todas 60 minutos? Não. Hoje não!
De que cor será sentir?
(pergunta de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro, em carta de 14 de Março de 1916)
quarta-feira, março 01, 2006
O essencial é saber ver Saber ver sem estar a pensar, Saber ver quando se vê.
Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa
Saudade que não deseja.
Sim, tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe está uma estrela
E ao perto está não a Ter.
Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó.
(Fernando Pessoa)