quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Sol no girassol.
Sombra desenha outra flor
no corpo dourado.

haikai



sábado, fevereiro 24, 2007

fui ouvi(e)r a Cristina Branco cantar Zeca Afonso. passaram 20 anos desde que ele não morreu. MARAVILHOSA Cristina Branco. (re)descobri-a com "Ulisses" e rendi-me definitivamente hoje com o Zeca.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Atmosfera
"O mundo é tão vasto, espaçoso,
O céu tão amplo e majestoso!
Tudo quer ver o meu olhar,
Mas não sei como o imaginar"
Para me encontrar no infinito,
Primeiro distingo, depois junto:
Grato está meu canto e seu lume
Ao homem que às nuvens deu nome.
Joahan Wolfgang Goethe
O jogo das Nuvens (Trad. de João Barrento)
...
Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida...
...
Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de Sintra,
Na estrada de Sintra, cada vez menos perto de mim...

(Álvaro de Campos, ao volante do chevrolet pela estrada de Sintra)

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Todas as cartas de amor são
Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos

terça-feira, fevereiro 13, 2007

algumas notas atrasadas:



SIM. o país desta vez não me desiludiu de todo. irrita-me a abstenção. mas o sim dá-me esperança.



a menina d'óculos contente nunca mais voltou. por onde andará ela a sorrir e a despedir-se da mãe?
todos os dias naquela paragem me lembro dela. será que continua sempre contente? será...

resisto a habituar-me ao novo Público. é quase como se me obrigassem a mudar de jornal. e a edição online, também renovada, demora muito mais tempo a abrir. tanto vermelho e tantas imagens para quê?


Blood Diamond. Di Caprio é candidato a melhor actor. é um bom candidato. fez-se, o rapaz que começa a perder o ar de rapazinho. Djimon Hounsou é candidato a melhor actor secundário. ora eu acho que Djimon Hounson não é um actor secundário. eu acho que ele é o herói do filme. no sentido clássico do termo. no sentido cinematográfico do termo. em todos os sentidos, espero (valha isso dos Óscares o que valer) que este menino ganhe um óscar!

Babel. não gostei. acho mau.

domingo, fevereiro 04, 2007

(Sou das Rua dos Douradores, como a humanidade inteira)

"Há sossegos de campo na cidade. Há momentos (...) em que, nesta Lisboa luminosa, o campo, como um vento, nos invade. E aqui mesmo, na Rua dos Douradores, temos o bom sono"

Bernardo Soares

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

(em véspera de Roteiro Pessoano, tropecei neste Campos; ou não conhecia ou há muito que o não lia)

Ora até que enfim..., perfeitamente...
Cá está ela!
Tenho a loucura exatamente na cabeça.
Meu coração estourou como uma bomba de pataco,
E a minha cabeça teve o sobressalto pela espinha acima...

Graças a Deus que estou doido!
Que tudo quanto dei me voltou em lixo,
E, como cuspo atirado ao vento,
Me dispersou pela cara livre!
Que tudo quanto fui se me atou aos pés,
Como a sarapilheira para embrulhar coisa nenhuma!
Que tudo quanto pensei me faz cócegas na garganta
E me quer fazer vomitar sem eu ter comido nada!

Graças a Deus, porque, como na bebedeira,
Isto é uma solução.
Arre, encontrei uma solução, e foi preciso o estômago!
Encontrei uma verdade, senti-a com os intestinos!

Poesia transcendental, já a fiz também!
Grandes raptos líricos, também já por cá passaram!
A organização de poemas relativos à vastidão de cada assunto resolvido em vários —
Também não é novidade.
Tenho vontade de vomitar, e de me vomitar a mim...
Tenho uma náusea que, se pudesse comer o universo para o despejar na pia, comia-o.
Com esforço, mas era para bom fim.
Ao menos era para um fim.
E assim como sou não tenho nem fim nem vida...

Álvaro de Campos