sábado, dezembro 31, 2005

A tod@s:
FELIZ ANO NOVO!

sexta-feira, dezembro 30, 2005


Canção do ano!

MÃOS ATADAS
Simone Saback
Tenho as mãos atadas ao redor do meu pescoço
Eu queria mesmo era tocar seu corpo
Reprimo meus momentos
Jogo fora os sentimentos e depois?
Depois toco meu corpo eu tenho frio
Sou um louco amargurado e até vazio
E me chamam atenção
Mas eu sou louco é de paixão e você?
Você que me retire desse poço
Eu sei ainda sou moço pra viver
E te ver assim tão crua
A verdade é toda nua
E ninguém vê
Eu tenho as mãos atadas sem ação
E um coração maior que eu para doar
Reprimo meus momentos
Jogo fora os sentimentos sem querer
Eu quero é me livrar
Voar
Sumir
Perder não sei, não sei, não sei querer mais
A qualquer hora é sempre agora chora
Quero cantar você
Vou fazer uma canção liberte o meu pensar
Aperte os cintos pra pousar
Agora é hora de dizer muito prazer sorte ouazar e amar
Simplesmente amar você
(Tirei esta fotografia a 20 de Agosto de 2005. A Zélia cantava esta canção!)
O concerto do ano!
Zélia Duncan.
Aula Magna.
Lisboa.
23 de Julho de 2005.
O disco do ano!
PRÉ
POS
TUDO
BOSSA
BAND
Zélia Duncan


Não podia deixar acabar o ano sem mostrar uma coisa boa que 2005 me deu: o meu gato preto que se chama Rosa! (Obrigada Vera!)

quinta-feira, dezembro 29, 2005


visto-me de entardecer
tantas vezes agora.
a ponte dá o mote
materializa a saudade
o rio escuta
no espanto com que me esmaga
e liberta
as palavras
as vontades
os medos
(quebra-se-me a voz. ardem-me os olhos.)
visto-me de entardecer
tantas vezes agora
e canto.
o encontro.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Hoje o céu é pesado como a ideia de nunca chegar a um porto...
A chuva miúda é vazia...

Minha alma é uma lâmpada que se apagou e ainda está quente...

Da última janela do castelo só um girassol

Se vê, e o sonhar que há outros põe brumas no nosso sentido...

(Fernando Pessoa, Hora Absurda, 4-7-1913)

terça-feira, dezembro 27, 2005

Olhando o Tejo

Rebanhos além monte ela guardava
Seu canto me vem no vento trazido,
E uma ânsia pela sua mágoa

Enche o que em mim é indefinido.

Lagos de espírito murados de rochas
Dormem no vazio da sua toada.
A sua nudez ali se demora
A reflectir na sombra salpicada.

Mas o que há de real em tudo isto
É minha alma, a tarde, o cais somente
E como sombra dos meus sonhos disto,
A dor em mim de nova dor se sente.

Mas o que é ela que traz o pesar?
E o que há nela que o pesar desvanece?
Que rasto de amor é este bem-estar
Que segue o seu trilho, se desaparece?

Lírios há entre corações e mãos.
A vida é pequena ao pé do luar.
Mas movam-se um pouco as árvores que estão
E logo se espera que ela vá voltar.

(Fernando Pessoa, Poemas Ingleses, trad. de Luísa Freire)
Um poema dorme em meu pensamento
Capaz de expressar minha alma inteira.
Vago eu o sinto, como som ou vento,
Mas já talhado em forma derradeira.

Nem estância ou verso ou palavra tem.
Tal como o sonho ele não tem lugar.
Um mero senti-lo, que difuso vem,
Como névoa feliz cercando o pensar.

Neste mistério noite e dia assim
Eu o sonho, o leio e o soletro,
E na berma das palavras sempre em mim
Parece pairar vago e completo.

Sei bem que ele nunca será escrito.
Também sei que não sei o que ele é.
Mas só de sonhá-lo, feliz já fico,
E ventura é ventura, falsa até.

(Fernando Pessoa, Poemas Ingleses, trad. de Luísa Freire)

Tinha de encontrar nas palavras dele tudo o que tenho dito...
Permaneço na berma das palavras. Sonhando-o. às vezes feliz, às vezes não. Com a minha alma inteira. À espera.

E às vezes, em pleno meio da rua [...] procuro como que uma súbita nova dimensão, uma porta para o interior do espaço, para o outro lado do espaço [...]

(palavras de Bernardo Soares. céu de 26 de Dezembro. procura também minha.)


voltei.
trouxe-me a estrada.
ou as nuvens?

domingo, dezembro 25, 2005

25 de Dezembro de 2005
(Leiria. Jardim Luís de Camões)

sábado, dezembro 24, 2005


De Leiria.
No Natal.
De Leiria, na noite de Natal...

Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera

Tive um sonho como uma fotografia.

Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte

Tornado outra vez menino,

A correr e a rolar-se pela erva

E a arrancar flores para as deitar fora

E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.

Era nosso demais para fingir

De segunda pessoa da Trindade.

No céu tudo era falso, tudo em desacordo

Com flores e árvores e pedras.

No céu tinha que estar sempre sério

E de vez em quando de se tornar outra vez homem

E subir para a cruz, e estar sempre a morrer

Com uma coroa toda à roda de espinhos

E os pés espetados por um prego com cabeça,

E até com um trapo à roda da cintura

Como os pretos nas ilustrações.

Nem sequer o deixavam ter pai e mãe

Como as outras crianças.

O seu pai era duas pessoas -

Um velho chamado José, que era carpinteiro,

E que não era pai dele;

E o outro pai era uma pomba estúpida,

A única pomba feia do mundo

Porque nem era do mundo nem era pomba.

E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.

Não era mulher: era uma mala

Em que ele tinha vindo do céu.

E queriam que ele, que só nascera da mãe,

E que nunca tivera pai para amar com respeito,

Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir

E o Espírito Santo andava a voar,

Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.

Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.

Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.

Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz

E deixou-o pregado na cruz que há no céu

E serve de modelo às outras.

Depois fugiu para o Sol

E desceu no primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha aldeia comigo.

É uma criança bonita de riso e natural.

Limpa o nariz ao braço direito,

Chapinha nas poças de água,

Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.

Atira pedras aos burros,

Rouba a fruta dos pomares

E foge a chorar e a gritar dos cães.

E, porque sabe que elas não gostam

E que toda a gente acha graça,

Corre atrás das raparigas

Que vão em ranchos pelas estradas

Com as bilhas às cabeças

E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.

Ensinou-me a olhar para as coisas.

Aponta-me todas as coisas que há nas flores.

Mostra-me como as pedras são engraçadas

Quando a gente as tem na mão

E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.

Diz que ele é um velho estúpido e doente,

Sempre a escarrar para o chão

E a dizer indecências.

A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.

E o Espírito Santo coça-se com o bico

E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.

Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.

Diz-me que Deus não percebe nada

Das coisas que criou - "Se é que ele as criou, do que duvido." -

"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,

Mas os seres não cantam nada.

Se cantassem seriam cantores.

Os seres existem e mais nada,

E por isso se chamam seres.

" E depois, cansado de dizer mal de Deus,

O Menino Jesus adormece nos meus braços

E eu levo-o ao colo para casa

. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.

Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.

Ele é o humano que é natural.

Ele é o divino que sorri e que brinca.

E por isso é que eu sei com toda a certeza

Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina

É esta minha quotidiana vida de poeta,

E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.

E que o meu mínimo olhar

Me enche de sensação,

E o mais pequeno som, seja do que for,

Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo

Dá-me uma mão a mim

E outra a tudo que existe

E assim vamos os três pelo caminho que houver,

Saltando e cantando e rindo

E gozando o nosso segredo comum

Que é saber por toda a parte

Que não há mistério no mundo

E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.

A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.

O meu ouvido atento alegremente a todos os sons

São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro

Na companhia de tudo

Que nunca pensamos um no outro,

Mas vivemos juntos e dois

Com um acordo íntimo

Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas

No degrau da porta de casa,

Graves como convém a um deus e a um poeta,

E como se cada pedra

Fosse todo o universo

E fosse por isso um grande perigo para ela

Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens

E ele sorri porque tudo é incrível.

Ri dos reis e dos que não são reis,

E tem pena de ouvir falar das guerras,

E dos comércios, e dos navios

Que ficam fumo no ar dos altos mares.

Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade

Que uma flor tem ao florescer

E que anda com a luz do Sol

A variar os montes e os vales

E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.

Levo-o ao colo para dentro de casa

E deito-o, despindo-o lentamente

E como seguindo um ritual muito limpo

E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma

E às vezes acorda de noite

E brinca com os meus sonhos.

Vira uns de pernas para o ar,

Põe uns em cima dos outros

E bate palmas sozinho

Sorrindo para o meu sono

. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Quando eu morrer, filhinho,

Seja eu a criança, o mais pequeno.

Pega-me tu ao colo

E leva-me para dentro da tua casa.

Despe o meu ser cansado e humano

E deita-me na tua cama.

E conta-me histórias, caso eu acorde,

Para eu tornar a adormecer.

E dá-me sonhos teus para eu brincar

Até que nasça qualquer dia

Que tu sabes qual é

. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Esta é a história do meu Menino Jesus.

Por que razão que se perceba

Não há-de ser ela mais verdadeira

Que tudo quanto os filósofos pensam

E tudo quanto as religiões ensinam ?

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos, Poema VIII

sexta-feira, dezembro 23, 2005

quinta-feira, dezembro 22, 2005

A felicidade

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite, passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre com o dia
Oferecendo beijos de amor

Vinicius de Moraes
in "Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Mar e lua

Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade
Distante do mar
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias
Levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade
Naquela cidade
Que não tem luar
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido
Todo mundo conta
Que uma andava tonta
Grávida de lua
E outra andava nua
Ávida de mar
E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepios
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua
Correndo pro mar
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito
Engolindo água
Boiando com as algas
Arrastando folhas
Carregando flores
E a se desmanchar
E foram virando peixes
Virando conchas
Virando seixos
Virando areia
Prateada areia
Com lua cheia
e à beira-mar

(Chico Buarque)

domingo, dezembro 18, 2005


Caminhada junto ao Tejo...
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
(Alberto Caeiro)

sábado, dezembro 17, 2005

Quando acabem os eléctricos
da Rua da Misericórdia
tão amarelos por fora
tão britânicos por dentro
não gostarei de Lisboa
(José Carlos González, Requiem prematuro pelos eléctricos de Lisboa)

sexta-feira, dezembro 16, 2005


Mais uma noite a vencer
...
Partiu na madrugada,
Sem se deixar fazer canção.
De mão aberta se fez à estrada,
Traçando sonhos pelo chão.
...

(Pedro Abrunhosa)
Para o Djordi
Silêncio azul a olhar o céu de Lisboa...

Claro que choveu!
Bolas na Avenida.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Tenho uma amiga que acha que estou possuída pela árvore, mas...
Não apetece entrar e voar?
10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, 0........

terça-feira, dezembro 13, 2005

Gosto da luzes de Natal. Das cores. Das bolas (mesmo quando há só vermelhas, douradas e azuis – para lamentar a ausência das verdes). Gosto dos vermelhos e dos verdes das toalhas. Das velas acesas. Gosto das ruas. Gosto de Lisboa. Da árvore gigante à espreita. Das bolas apagadas na Avenida. E delas a brilhar como luas. E com estas cores e estes brilhos vou alimentando esta “lareira” em Dezembro.
Mas a minha lareira de Natal é ela. A minha irmãzinha. É do que mais gosto no Natal. Desde sempre. Desde que ela existe e o Natal faz tão mais sentido. O nosso jantar de Natal – com todos lá mas que é só nosso. A espera até à meia-noite – com todos lá mas que é só nossa. As prendas que ninguém percebe. As saudades que tínhamos de estar ali as duas. Com todos. Trouxemos amores para partilhar a noite mas a língua que falamos continua a ser só nossa. Os recursos estilísticos são os nossos.
Querias metáforas irmãzinha? A minha metáfora de Natal és tu. É estar contigo.

segunda-feira, dezembro 12, 2005


E à noite, enfeita-se. Tenta esconder-se. Mas continua a espreitar...

Há algo a mais na Baixa. A cada esquina. No final das ruas. Onde o Tejo já se não vê ela aparece. Intromete-se nas nossas conversas. Claro. Ali está ao fim da rua, a olhar, a olhar, a mostrar-se.
Lisboa tem agora esta presença. Este Natal. À espreita. Sempre à espreita. E a olhar para nós. Como se não existisse. E esta manhã vi-a assim.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Hoje, absolutamente por acaso, e em trabalho, tropecei no hino nacional de Cabo Verde, país de que gosto muito e de que tenho muitas saudades.
Achei tão lindo!
Pela liberdade que é hino e pela esperança ser do tamanho do mar... terras que ficam entre um mar imenso e as estrelas...

Canta, irmão,
Canta meu irmão
Que a liberdade é hino
E o homem a certeza.

Com a dignidade, enterra a
Semente no pó da ilha nua:
No despenhadeiro da Vida
A esperança é do tamanho do Mar
Que nos abraça.
Sentinela de mares e Ventos
Perseverantes.
Entre estelas e o atlântico
Entoa o cântico da liberdade.

Canta, irmão
Canta meu irmão que a liberdade
É hino e o homem a certeza.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Meu coração é uma ânfora que cai e que se parte...
O teu silêncio recolhe-o e guarda-o, partido, a um canto...

(Fernando Pessoa, Cancioneiro)
"Cruza a mão sobre o joelho e olha-me em silêncio
A esta hora em que eu não posso ver que tu me olhas,
Olha-me em silêncio e em segredo e pergunta a ti própria
- Tu que me conheces - quem eu sou..."
Álvaro de Campos

segunda-feira, dezembro 05, 2005


O meu pai é muito lindo. Entre muitas outras coisas ele gosta de árvores de Natal. E este ano tem uma que muda de cor e está todo contente com ela. Diz que gosta de adormecer a olhar para aquela luz. É lindo, pronto!

Promessa
Na clara paisagem essencial e pobre
Viverei segundo a lei da liberdade
Segundo a lei da exacta eternidade.
(Sophia de Mello Breyner Andresen, No Tempo Dividido)
(era eu que ía a conduzir, sim, e apeteceu-me muito...)

domingo, dezembro 04, 2005

Estou rodeada de algumas das crianças da família.
O Tomás, que tem 8 anos, acabou de dizer: "Não escrevas. Escrever dá azar."
O Afonso, que tem 9 anos, acha mesmo que "Escrever mata. Abre-te o cérebro".

sábado, dezembro 03, 2005

Um mar rodeia o mundo de quem está só. É
o mar sem ondas do fim do mundo. A sua água
é negra; o seu horizonte não existe. Desenho
os contornos desse mar com um lápis de
névoa. Apago, sobre a sua superfície, todos
os pássaros. Vejo-os abrigarem-se da borrasca
nas grutas do litoral: as aves assustadas da
solidão. «É um mundo impenetrável», diz
quem está só. Senta-se na margem, olhando
o seu caso. Nada mais triste para além dele, até
esse branco amanhecer que o obriga a lembrar-se
que está vivo. Então, espera que a maré suba,
nesse mar sem marés, para tomar uma decisão.

(Nuno Júdice, Pedro, lembrando Inês, encontrado nos arquivos de http://barcosflores.blogspot.com )

sexta-feira, dezembro 02, 2005


Trago dentro do meu coração
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive.

(Álvaro de Campos, Passagem das Horas)

E todas as estradas...
E o céu...
Às vezes em fogo.
Às vezes no chão.

quinta-feira, dezembro 01, 2005


Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas
O resto é a sombra
De árvores alheias.

Ricardo Reis, Odes

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Fernando Pessoa, 1931

quarta-feira, novembro 30, 2005


Fernando Pessoa
13 de Junho de 1888 - 30 de Novembro de 1935
A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.


terça-feira, novembro 29, 2005

«I know not what tomorrow will bring»
(Fernando Pessoa, a 29 de Novembro de 1935)

segunda-feira, novembro 28, 2005

Apetece rodopiar!!!



Árvores de Natal!!! Em Lisboa!


Eu não queria abusar da paciência de quem vem olhar para esta "lareira", mas eu gosto mesmo de luzes de Natal. E então, cá ando eu a fotografá-las. E a descobrir árvores novas todos os dias! Mostro hoje a última que descobri. Na Praça do Município.

domingo, novembro 27, 2005


Então Bom Dia Lisboa!
(assim com o Tejo à minha frente. Como na canção dos Rádio Macau que estou a ouvir...)

Em dia de passeio nocturno vi
árvores.
Em Lisboa.
Já não gosto de poemas de palavras. Os poemas de palavras não servem para nada.
(Antonin Artaud)

sábado, novembro 26, 2005

Mais Lisboa. E a memória de uma das mais belas e mais bem contadas histórias de amor do mundo. Em manhã de sol e chuva.

Amores da alta esposa de Peleu
Me fizeram tomar tamanha empresa.
Todas as Deusas desprezei do Céu,
Só por amar das águas a Princesa.
Hum dia a vi, co'as filhas de Nereu,
Sair nua na praia: e logo presa
A vontade sinti, de tal maneira,
Que inda não sinto outra cousa que mais queira.

Converte-se-me a carne em terra dura;
Em penedos os ossos se fizeram;
Estes membros que vês e esta figura
Por estas longas águas se estenderam.
Enfim, minha grandíssima estatura
Neste remoto Cabo converteram
Os Deuses; e, por mais dobradas mágoas,
Me anda Thétis cercando destas águas.

(Os Lusíadas, canto V, estrofes 52 e 59)

sexta-feira, novembro 25, 2005



gostas de ar e de vento
gostas de mar
gostas desta cidade
gostas de passear
gostas de bonecos
vinho música letras canções filmes
gostas de gostar de pessoas

e acho que gostas de bolas que fingem ser luas

quinta-feira, novembro 24, 2005

Presente
Eu quero simplesmente
Te dar um presente
A rosa dos tempos desabrocha, desabrocha
Desabrocha novamente
Eu quero simplesmente
A vida semente
A mente que vibra
Vibra as fibras da cidade
Que vibra novamente
Eu quero simplesmente
Você nesse instante
Amante da vida da vida amante
E o gozo do mundo, gozo sem fundo
Gozamos durante


Avenida da Liberdade
(texto de de Zé Miguel Wisnik, cantado pela Zélia Duncan em "Eu me transformo em outras")


quarta-feira, novembro 23, 2005


A poesia é a arte de materializar sombras e de dar existência ao nada.
(Edmund Burke)

terça-feira, novembro 22, 2005

A Mestra

À pergunta “que queres ser quando fores grande?” sempre respondi o mesmo. Tirando os devaneios artísticos, acho que nunca quis ser outra coisa. Quando for grande quero ser professora.
Encontrei-a muito cedo. Ainda no tempo em que nos antecipamos adultos à semelhança de alguém. E então, eu aluna, ela professora, pensava quando for grande quero ser como ela. E assim fui crescendo, com esta escolha. E com a alegria de a ir tendo por perto.
Dentro das salas de aula aprendi com ela tantas coisas importantes – aprendi com ela a aprender coisas importantes. Como amar a poesia e alguns poetas. Os poetas da minha vida chegaram com ela. Fora das salas de aula aprendi com ela muitíssimas coisas importantes – e mais poetas.
Li-a muito. Ouvi-a muito. Gostei tanto dela sempre.
E contente, todos os dias senti a sorte de me ter cruzado com a melhor professora do mundo.
No último dia de aulas do último ano em que estive na nossa escola chorei tanto! Nunca lho disse. Chorei horas pela tristeza de a estar a perder. Pela tristeza de deixar de me cruzar com ela naquelas salas, naqueles corredores. Claro que a não perdi e ganhei muitos outros sentidos para a nossa relação. Claro que linda como ela é foi ficando sempre por perto e me deixou sempre continuar a aprender a aprender com ela. (Mas naquela idade em que tudo vai mudar não se vê isto e o medo das mudanças confunde-se com o medo da perda...)
Ela chegava sempre contente à aula. Cumprimentava-me contente nos corredores. Partilhava contente os textos. Fez-me sempre perguntas difíceis.
Precisei sempre de a ter por perto – pelos livros, pelas dúvidas, pelas tardes de Sábado em que eu, contente, lhe contava da minha vida de aprender a ser professora. Pelos filmes. Pelas canções. Por tudo o que ela me foi ensinando a aprender. Pelas perguntas difíceis e pelos sorrisos. Pela sua forma de me indisciplinar a alma. Por me manter alerta ao espanto de existir. Por continuar a ser a melhor professora do mundo.
Ontem, a Professora Amélia Pais, esteve no programa “Prós e Contras”. A dizer-nos, entre muitas outras coisas, que um professor só pode ser um “indisciplinador de almas” lembrando Pessoa. A dizer que um professor deve trabalhar contente. A dizer que esta é a profissão mais linda do mundo. Eu acredito nisto.
Não sei que professora sou nem o que faço às almas com que me vou cruzando. Mas sei que não seria nunca uma professora tão contente de o ser se não me tivesse cruzado com a melhor professora do mundo!
Obrigada Amélia Pais! A minha Mestra! Para sempre!

segunda-feira, novembro 21, 2005


O Natal está a chegar!

I can resist everything except temptation

(Oscar Wilde)

domingo, novembro 20, 2005

como um raio a rasgar a vida
como uma flor a florir desmedida
como uma cidade secreta
a levantar-se do chão
como um instante único na vida
assim nasceste no meu olhar
assim te vi
flor a florir desmedida
assim te vi a rasgar a vida
como um instante único na vida
como uma pétala dessa flor a levantar-se do chão
(Anaifa, canções subterrâneas, poema - excerto- de José Luís Peixoto)
Fora das Mãos
"fora das mãos... e dentro,
estão palavras."
(foradasmaos.blogspot.com)

sábado, novembro 19, 2005


Eu gosto tanto de fogo de artifício!...
O Arco da Rua Augusta encolheu...
Lisboa já tem luzes de Natal!

Leitaria "A Camponesa"

Rua dos Sapateiros

E as metafísicas perdidas nos cantos de cafés de toda a parte (Álvaro de Campos) reúnem-se todas aqui às vezes. No meu café. Hoje. Pela manhã.


Daquilo que está por baixo
Até ao que fica no alto
Vão dois carris de metal
Na calçada de Basalto

Desde este lugar sem história
Até um lugar na história
Vão apenas dois minutos
No Elevador da Glória

No Elevador da Glória
Duma existência banal
Até às luzes da ribalta
Há dois carris de metal

Desde a Baixa à vida alta
Desde o triste anonimato
Desde a ralé e a escória
Até à fama e ao estrelato

Há o Elevador da Glória

No Elevador da Glória

(Rádio Macau, 1987)