domingo, novembro 30, 2008

13 de Junho de 1888-30 de Novembro de 1935
na foto: Lisboa, 2008
Há entre mim e o mundo uma névoa que impede que eu veja as coisas como verdadeiramente são — como são para os outros.
Sinto isto.
1915? Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa.

quarta-feira, novembro 26, 2008











uma oferta. como dantes...

O girassol
Traz-me um girassol para que o transplante
no meu árido terreno
e mostre todo o diaao espelho azul do céu
a ansiedade do teu rosto
amarelento

Tendem à claridade as coisas obscuras
esgotam-se os corpos num fluir
de tintas ou de músicas. Desaparecer
é então a dita das ditas

Traz-me tu a planta que conduza
onde crescem loiras transparências
e se evapora a vida como essência
Traz-me o girassol de enlouquecidas luzes.
Eugenio Montale




quinta-feira, novembro 20, 2008

na posssibilidade de uma ilha
a cada esquina.

se um dia fui pedra
todos os dias
serei pedra.



carlabruni.músicaárabe.eu.eléctrico28.





quarta-feira, novembro 19, 2008

sobre o amor marinho




sou o teu mar, senhora minha,
e não me perguntes da viagem
nem do tempo da partida e da chegada:
só tens de esquecer os impulsos da terra
e obedecer às leis do mar
e entrar-me como peixe enfurecido;
racha o navio em dois pedaços
e o horizonte em dois pedaços
e a minha vida em dois pedaços

Nizâr Qabbânî

Tradução: André Simões

(do maravilhoso sobre as ruínas)


terça-feira, novembro 18, 2008

Happy Birthday
Mickey Mouse

(post dedicado ao meu menino. o teu Mickey faz hoje 80 anos!)




segunda-feira, novembro 17, 2008


a primeira. ontem.




e candeeiros hoje.

e a avenida a espreitar de azul.



quinta-feira, novembro 13, 2008

andar de autocarro diariamente é uma coisa extraordinária. cruzo-me todos os dias com gente que doutra maneira não faria parte do meu quotidiano (e quanto mais variedade ele tiver mais contente eu sou...). caminho até à paragem com o Tejo ao lado. tenho mais tempo para ler. ouço música. ouço muitas conversas. enfim, fiz esta opção há mais de 2 anos e gosto.

3 momentos diferentes do dia de hoje nestas andanças:

mulher aparentemente na casa dos 30: "foi com o Osvaldo que aprendi a andar de autocarro. até sair de casa dos meus pais nem de metro eu andava. a minha mãe nunca andou comigo para lado nenhum. um dia ficou triste, fartou-se de chorar, porque lhe disse que a Tânia era a minha melhor amiga. que é que ela queria? nunca saía comigo. sim, eu nunca soube o que é ir a um talho com a minha mãe"

uma mulher aparentemente na casa dos 40, segurava umas folhas em que se lia: "Súplicas que os fiéis podem utilizar privadamente no combate contra os poderes das trevas"

homem aparentemente na casa dos 50: "compro passe há 20 anos, por isso sou accionista da carris. mas também, que é que um homem leva desta vida se não andar aqui nisto para cima e para baixo?"

(eu lia "Outras histórias de São Francisco". em Lisboa :))

domingo, novembro 09, 2008

...
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.
José Carlos Ary dos Santos

quinta-feira, novembro 06, 2008

serão as almas incomunicáveis
estarão as almas incomunicáveis.
na dúvida entendam-se os corpos.

abrimos a mesma janela
e vemos o mar.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Barack Obama.
o presidente dos Estados Unidos da América.

terça-feira, novembro 04, 2008

Arte poética
o poema não tem mais que o som do seu sentido,
a letra p não é primeira letra da palavra poema,
o poema é esculpido de sentidos e essa é a sua forma,
poema não se lê poema, lê-se pão ou flor, lê-se erva
fresca e os teus lábios, lê-se sorriso estendido em mil
árvores ou céu de punhais, ameaça, lê-se medo e procura
de cegos, lê-se mão de criança ou tu, mãe, que dormes
e me fizeste nascer de ti para ser palavras que não
se escrevem, lê-se país e mar e céu esquecido e
memória, lê-se silêncio, sim, tantas vezes, poema lê-se silêncio,
lugar que não se diz e que significa, silêncio do teu
olhar de doce menina, silêncio ao domingo entre as conversas,
silêncio depois de um beijo ou de uma flor desmedida, silêncio
de ti, pai, que morreste em tudo para só existires nesse poema
calado, quem o pode negar?, que escreves sempre e sempre, em
segredo, dentro de mim e dentro de todos os que te sofrem.
o poema não é esta caneta de tinta preta, não é esta voz,
a letra p não é a primeira letra da palavra poema,
o poema é quando eu podia dormir até tarde nas férias
do verão e o sol entrava pela janela, o poema é onde eu
fui feliz e onde eu morri tanto, o poema é quando eu não
conhecia a palavra poema, quando eu não conhecia a
letra p e comia torradas feitas no lume da cozinha do
quintal, o poema é aqui, quando levanto o olhar do papel
e deixo as minhas mãos tocarem-te, quando sei, sem rimas
e sem metáforas, que te amo, o poema será quando as crianças
e os pássaros se rebelarem e, até lá, irá sendo sempre e tudo.
o poema sabe, o poema conhece-se e, a si próprio, nunca se chama
poema, a si próprio, nunca se escreve com p, o poema dentro de
si é perfume e é fumo, é um menino que corre num pomar para
abraçar o seu pai, é a exaustão e a liberdade sentida, é tudo
o que quero aprender se o que quero aprender é tudo,

José Luís Peixoto
A criança em ruínas
a propósito das eleições americanas de hoje li algures num blog (leio tudo tão a correr que nem tive tempo de fixar quem escreveu, mas alguém escreveu...) que hoje é dia de acreditar.
eu acredito.