quarta-feira, novembro 30, 2005


Fernando Pessoa
13 de Junho de 1888 - 30 de Novembro de 1935
A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.


terça-feira, novembro 29, 2005

«I know not what tomorrow will bring»
(Fernando Pessoa, a 29 de Novembro de 1935)

segunda-feira, novembro 28, 2005

Apetece rodopiar!!!



Árvores de Natal!!! Em Lisboa!


Eu não queria abusar da paciência de quem vem olhar para esta "lareira", mas eu gosto mesmo de luzes de Natal. E então, cá ando eu a fotografá-las. E a descobrir árvores novas todos os dias! Mostro hoje a última que descobri. Na Praça do Município.

domingo, novembro 27, 2005


Então Bom Dia Lisboa!
(assim com o Tejo à minha frente. Como na canção dos Rádio Macau que estou a ouvir...)

Em dia de passeio nocturno vi
árvores.
Em Lisboa.
Já não gosto de poemas de palavras. Os poemas de palavras não servem para nada.
(Antonin Artaud)

sábado, novembro 26, 2005

Mais Lisboa. E a memória de uma das mais belas e mais bem contadas histórias de amor do mundo. Em manhã de sol e chuva.

Amores da alta esposa de Peleu
Me fizeram tomar tamanha empresa.
Todas as Deusas desprezei do Céu,
Só por amar das águas a Princesa.
Hum dia a vi, co'as filhas de Nereu,
Sair nua na praia: e logo presa
A vontade sinti, de tal maneira,
Que inda não sinto outra cousa que mais queira.

Converte-se-me a carne em terra dura;
Em penedos os ossos se fizeram;
Estes membros que vês e esta figura
Por estas longas águas se estenderam.
Enfim, minha grandíssima estatura
Neste remoto Cabo converteram
Os Deuses; e, por mais dobradas mágoas,
Me anda Thétis cercando destas águas.

(Os Lusíadas, canto V, estrofes 52 e 59)

sexta-feira, novembro 25, 2005



gostas de ar e de vento
gostas de mar
gostas desta cidade
gostas de passear
gostas de bonecos
vinho música letras canções filmes
gostas de gostar de pessoas

e acho que gostas de bolas que fingem ser luas

quinta-feira, novembro 24, 2005

Presente
Eu quero simplesmente
Te dar um presente
A rosa dos tempos desabrocha, desabrocha
Desabrocha novamente
Eu quero simplesmente
A vida semente
A mente que vibra
Vibra as fibras da cidade
Que vibra novamente
Eu quero simplesmente
Você nesse instante
Amante da vida da vida amante
E o gozo do mundo, gozo sem fundo
Gozamos durante


Avenida da Liberdade
(texto de de Zé Miguel Wisnik, cantado pela Zélia Duncan em "Eu me transformo em outras")


quarta-feira, novembro 23, 2005


A poesia é a arte de materializar sombras e de dar existência ao nada.
(Edmund Burke)

terça-feira, novembro 22, 2005

A Mestra

À pergunta “que queres ser quando fores grande?” sempre respondi o mesmo. Tirando os devaneios artísticos, acho que nunca quis ser outra coisa. Quando for grande quero ser professora.
Encontrei-a muito cedo. Ainda no tempo em que nos antecipamos adultos à semelhança de alguém. E então, eu aluna, ela professora, pensava quando for grande quero ser como ela. E assim fui crescendo, com esta escolha. E com a alegria de a ir tendo por perto.
Dentro das salas de aula aprendi com ela tantas coisas importantes – aprendi com ela a aprender coisas importantes. Como amar a poesia e alguns poetas. Os poetas da minha vida chegaram com ela. Fora das salas de aula aprendi com ela muitíssimas coisas importantes – e mais poetas.
Li-a muito. Ouvi-a muito. Gostei tanto dela sempre.
E contente, todos os dias senti a sorte de me ter cruzado com a melhor professora do mundo.
No último dia de aulas do último ano em que estive na nossa escola chorei tanto! Nunca lho disse. Chorei horas pela tristeza de a estar a perder. Pela tristeza de deixar de me cruzar com ela naquelas salas, naqueles corredores. Claro que a não perdi e ganhei muitos outros sentidos para a nossa relação. Claro que linda como ela é foi ficando sempre por perto e me deixou sempre continuar a aprender a aprender com ela. (Mas naquela idade em que tudo vai mudar não se vê isto e o medo das mudanças confunde-se com o medo da perda...)
Ela chegava sempre contente à aula. Cumprimentava-me contente nos corredores. Partilhava contente os textos. Fez-me sempre perguntas difíceis.
Precisei sempre de a ter por perto – pelos livros, pelas dúvidas, pelas tardes de Sábado em que eu, contente, lhe contava da minha vida de aprender a ser professora. Pelos filmes. Pelas canções. Por tudo o que ela me foi ensinando a aprender. Pelas perguntas difíceis e pelos sorrisos. Pela sua forma de me indisciplinar a alma. Por me manter alerta ao espanto de existir. Por continuar a ser a melhor professora do mundo.
Ontem, a Professora Amélia Pais, esteve no programa “Prós e Contras”. A dizer-nos, entre muitas outras coisas, que um professor só pode ser um “indisciplinador de almas” lembrando Pessoa. A dizer que um professor deve trabalhar contente. A dizer que esta é a profissão mais linda do mundo. Eu acredito nisto.
Não sei que professora sou nem o que faço às almas com que me vou cruzando. Mas sei que não seria nunca uma professora tão contente de o ser se não me tivesse cruzado com a melhor professora do mundo!
Obrigada Amélia Pais! A minha Mestra! Para sempre!

segunda-feira, novembro 21, 2005


O Natal está a chegar!

I can resist everything except temptation

(Oscar Wilde)

domingo, novembro 20, 2005

como um raio a rasgar a vida
como uma flor a florir desmedida
como uma cidade secreta
a levantar-se do chão
como um instante único na vida
assim nasceste no meu olhar
assim te vi
flor a florir desmedida
assim te vi a rasgar a vida
como um instante único na vida
como uma pétala dessa flor a levantar-se do chão
(Anaifa, canções subterrâneas, poema - excerto- de José Luís Peixoto)
Fora das Mãos
"fora das mãos... e dentro,
estão palavras."
(foradasmaos.blogspot.com)

sábado, novembro 19, 2005


Eu gosto tanto de fogo de artifício!...
O Arco da Rua Augusta encolheu...
Lisboa já tem luzes de Natal!

Leitaria "A Camponesa"

Rua dos Sapateiros

E as metafísicas perdidas nos cantos de cafés de toda a parte (Álvaro de Campos) reúnem-se todas aqui às vezes. No meu café. Hoje. Pela manhã.


Daquilo que está por baixo
Até ao que fica no alto
Vão dois carris de metal
Na calçada de Basalto

Desde este lugar sem história
Até um lugar na história
Vão apenas dois minutos
No Elevador da Glória

No Elevador da Glória
Duma existência banal
Até às luzes da ribalta
Há dois carris de metal

Desde a Baixa à vida alta
Desde o triste anonimato
Desde a ralé e a escória
Até à fama e ao estrelato

Há o Elevador da Glória

No Elevador da Glória

(Rádio Macau, 1987)
Disco Fever

Pavilhão Atlântico. Ontem à noite.
Boney M. Village People. Muito divertido! Fui com mais quatro plumas (eu sou a verde!) fantásticas! (Sim, hoje doem-me as pernas!)

quinta-feira, novembro 17, 2005

A ideia.
Fervilhações. Inquietações. Ou seriam insatisfações?
do absurdo da Hora ao absurdo da Falta
depois da Hora de ontem e de uma ideia de queda livre de hoje surgiu a Falta e a consciência (de novo?) dela.
a Falta que me traz até aqui. será a Falta dos versos que me escapam. será a Falta das imagens que aqui deixo. vê-se nas palavras que insisto em esconder. vê-se nas palavras que todos os dias me têm esmagado.
as imagens dos outros. as palavras dos outros que rasgam por mim. do indizível ao invisível. do absurdo da Hora ao absurdo da Falta.
é com ela que caminho. será ela o meu olhar atrás da lente. será dela a força das palavras que me rasgam.
entregar-me a ela a cada instante e, também, viver... será.
deve chamar-se Falta?
"Pauis de roçarem ânsias pela minh'alma em ouro... "
(Fernando Pessoa, Impressões do Crepúsculo, 29-03-1913)
Tanto tempo para chegar aqui. A sentir tanto esta Hora. A Hora do poema, que a Lua iluminou, que o Tejo vigiou, que a Presença e a Dor de certa forma ampararam. Ainda com lágrimas. Os sentidos do Transparente de Foi. Impressões de um Crepúsculo finalmente em mim. Em palavras rasgadas ao Tempo. E o Luar sobre o não conter-se...
Trepadeiras de despropósito. Talvez.
(sem imagem. nenhuma imagem da Lua será tão forte como a daquele dia... ainda aqui comigo)

quarta-feira, novembro 16, 2005


Disseram-me que hoje, 16 de Novembro, é Dia do Mar.
Não é todos os dias?

terça-feira, novembro 15, 2005

AlmaOm

Esta fotografia é para ti! Porque, se te lembras, o meu olhar aqui é também o teu!
E tudo isto vem a propósito do teu novíssimo blog, de que vou gostar tanto. "um princípio que se move em direcção a lugares distantes". (almaom.blogspot.com)

segunda-feira, novembro 14, 2005


Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

(Mário de Sá-Carneiro, Quase)

Este é um menino lindo, que eu também amo, da mesma constelação dos que por aqui têm passado!

domingo, novembro 13, 2005



o essencial é saber ver
saber ver sem estar a pensar,
saber ver quando se vê

(Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos)

sábado, novembro 12, 2005


Hoje ao final da tarde, da Ponte Vasco da Gama, Lisboa via-se assim.

Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo.
Pequena mágoa onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
(Álvaro de Campos)

quinta-feira, novembro 10, 2005

Ainda Évora...
os poemas, às vezes, fazem-me mal...

terça-feira, novembro 08, 2005

Há o perigo de um grito lindíssimo
quando andas assim comigo no invisível
(Mário Cesariny)

Os versos foram encontrados num dos meus blogs preferidos- corpovisivel.blogspot.com.
A rua foi encontrada em Évora e fez desta uma fotografia muito especial!
tenho as estrofes esquecidas
quietude ou desejo

dor
que profetiza
poemas
de imobilidade
para lá de mim

não volto

em versos
ali ao lado
aqui dentro
nunca vejo
nunca espero

sem rigor
sem métrica

o mundo inteiro
a minha vida

à espera

sempre à espera

segunda-feira, novembro 07, 2005

"Como nada amei nem fiz
Quero descansar de nada
Amanhã serei feliz
Se para amanhã há estrada"
(Fernando Pessoa)

sexta-feira, novembro 04, 2005

Afinal era destes....
A minha melhor amiga (sim, há quem ainda fale assim!) respondeu-me, por mail, à provocação sobre o "bicho da escrita". Como gostei muito do texto que ela me deu, aqui fica.
"Leitor imune ao vício da escrita eleitor não imune ao vício da escrita eis o que digo:

Do alto do telhado de onde desci está um gato. Ele contorce-se, mexe-se e sonha de olhos abertos. Costumo partilhar com ele a minha vida. Fui até ao telhado pois ele fugiu pela porta principal.
Usou as suas quatro patas, deixou arranhadelas escritas na porta de madeira. Leram-mas. (Com a emoção eu não via nada.) Dizem que descobriu que sentia intensamente o mundo, inspirou-o profundamente, durante anos. Dizem ainda que aprendeu a fazer amor sofregamente, que já não se sente atabalhoado nem mal-asado, sabe voar graças à andorinha do livro! É um gato fantástico!
Ainda regressa a casa, mas dorme pouco, não tem tempo.
Consta na vizinhança que decidiu viver longe, para sempre, esqueci-me de te dizer, a vizinhança é surda.
O raio do gato acenou-me quando me viu afastar, pareceu-me gesto de despedida. E eu que deixei de fazê-las, choro muito nas despedidas, a ausência mata-me. Por isso sussurrei-lhe... enquanto ele estava de olhos fechados. Não sei se me ouviu ler ou somente viu passar um outro gato, branco, tal e qual a página de uma sebenta nova.
Fiquei também na dúvida se seria um gato branco ou se seria a espuma do mar bravio que me descreveram.
Estão gatos no teu telhado a cumprimentar-se silenciosamente...
Quanto ao gato do alto do telhado de onde desci, ele anda arredio da escrita.
O que vou eu fazer com esse gato, se ele não arranhar mais à minha porta?"

A.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Ela está quase a chegar! De novo! Que saudades!
Só lhe perdoo ela ter desaparecido quando de vez em quando ela aparece. Não se faz!
(Depois comentarei o filme! Me aguardem!)

quarta-feira, novembro 02, 2005

Porque hoje, numa biblioteca onde gosto muito de estar, tropecei neste pequeno livro, que adorei ler, aqui fica a provocação.


Todos os meus amigos escrevem. Excelente. Todos os meus amigos gostam de escrever. Formidável. Eu próprio não desgosto de escrever embora já não o faça. Escrever é bom. Escrever as palavras. Escrever as coisas. Escrever o mundo. O mundo dentro de nós. E o mundo fora de nós.
Todos os meus amigos escrevem. Todos os meus amigos são escritores. Todos os meus amigos fazem livros. [...]
Esta situação é preocupante. [...]
A doença é altamente contagiante. [...]
Até as crianças se põem a escrever. [...]
Inventam histórias, histórias, histórias [...]
Eu sou um leitor. Sei que sou: leio o que outros escrevem [...]
E você? Não sei se existe, caro/a colega de sobrevivência neste mundo em colapso. Se ler isto, é porque ainda existe, e então fica a saber que, algures no planeta, talvez mesmo na sua cidade, há alguém que partilha os seus medos, angústias, mas também as suas esperanças. E talvez possamos encontrar-nos, era mesmo bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto, para unir esforços, e procurar outros como nós: leitores imunes ao bicho da escrita. [...]

(Rui Zink, O bicho da escrita, Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, Abril 2004)

terça-feira, novembro 01, 2005




Alice.
Uma obra-prima. Uma prima obra-prima, o que a faz ainda mais especial. Não me apetece falar do filme com os lugares-comuns dos críticos perante um objecto desta grandeza. Não li as críticas antes para ir “limpa”. Ainda bem! Mas é, de facto, um grande filme, feito com grandes actores. Um Nuno Lopes irrepreensível. Uma Beatriz Batarda também. (Digo também porque o filme é do olhar do Nuno Lopes, do corpo dele, que materializa a saudade, o medo, a culpa, a raiva, tudo junto, quase em silêncio, num olhar de despeito sobre a cidade que lhe rouba todos os dias a vida a que, todos os dias, não regressa.)
Este filme não é a cores. Não é a preto e branco. É a cor de chuva, cor de noite, cor de saudade. Chove dentro do filme o tempo quase todo. Às vezes a chuva está lá, ouve-se e molha as personagens. Outras vezes a chuva fica em nós. Ficou em mim o tempo todo.
Não sei nada sobre o menino que escreveu e realizou este filme. Mas há-de ser um menino lindo. Perguntava-me quantos livros é preciso ler, quantos filmes é preciso ver, para fazer um filme assim. Para filmar a ausência. Ou, mais difícil e comovedor, a presença do que não está, nem vai estar. Filma o vazio. E Lisboa com ele. Esvazia Lisboa de sentidos, cheia de pessoas, sim, sem sentidos. Fiquei dentro do filme muitas horas depois de sair da sala. E Lisboa nunca mais será a mesma ao meu olhar. E isto é que é de uma grandeza esmagadora. Como a banda sonora, do Bernardo Sasseti, que se bate, a todo o instante, com a ausência e o vazio. Tão grande quanto o corpo do Nuno Lopes. E o génio do Marco Martins. Para chamar os nomes todos.
Alice.

Sentidos para aqui chegar

"E, se o escritório da Rua dos Douradores representa para mim a vida, este meu segundo andar, onde moro, na mesma Rua dos Douradores, representa para mim a Arte. Sim, a Arte, que mora na mesma rua que a Vida, porém num lugar diferente, a Arte que alivia da vida sem aliviar de viver, que é tão monótona como a mesma vida, mas só em lugar lugar diferente. Sim, esta Rua dos Douradores compreende para mim todo o sentido das coisas, a solução de todos os enigmas, salvo o existirem enigmas, que é o que não pode ter solução."

(“Livro do Desassossego”, Bernardo Soares)