segunda-feira, novembro 27, 2006

domingo, novembro 26, 2006

radiograma

Alegre triste meigo feroz bêbedo
lúcido
no meio do mar


Claro obscuro novo velhíssimo obsceno
puro
no meio do mar


Nado-morto às quatro morto a nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar


Mário Cesariny
Lisboa 1923 - Lisboa 2006

quinta-feira, novembro 23, 2006

apanho todos os dias o mesmo autocarro, à mesma hora sempre.
(chego lá cansada, mas levo nos olhos o Tejo)
já conheço as caras de quem partilha a mesma viagem. à mesma hora sempre. na mesma paragem sempre. e antes de chegar espero-as com o entusiasmo de quem vê uma cara que lhe faz bem.
(as caras familiares fazem-me bem)
o segurança acabado de sair do turno, barba por fazer, traz sempre A Bola. Senta-se, abre o jornal e quando eu saio já está a dormir - sairá no sítio certo?
a menina-d’óculos-contente entra a seguir e acena alegremente à mãe que a traz e a vigia da paragem. esta menina-d’óculos-contente deve ter um problema qualquer. vê-se que já teria idade para apanhar o autocarro sozinha, mas não deve conseguir. quando nos aproximamos lá está ela, sempre contente, de mão dada com a mãe. entra sempre atabalhoadamente, com uma enorme mochila, um casaco cor-de-rosa (é novo e antes do frio trazia um cinzento), o passe ao pescoço e senta-se, contente, a dizer adeus à mãe que espera na paragem, continuando invisivelmente de mão dada com ela.
(não olho nunca para trás para saber se a mãe vai logo embora)
a senhora de uns óculos enormes entra na seguinte. aqueles óculos já não existem em lugar nenhum. aquelas saias de pregas e aqueles casacos de malha curtos também não.
(isto sou eu a dizer assim, porque se exibem orgulhosamente ainda entre os Fanqueiros e a Madalena)
ali vou eu, ao pé destes e dos outros todos. a adivinhar-lhes as histórias, os empregos, as vontades do dia, o que terão comido de manhã, a música dos headphones.
(gosto tanto de tentar adivinhar as músicas. nunca devo acertar. e acho isso lindo. e continuo a tentar adivinhar todos os dias)
terça-feira, a menina-d’óculos-contente não entrou. não chegou a tempo, pensei. entretive-me com a senhora de óculos grandes (ia caindo...) e a música dos outros.
quarta-feira, a menina-d’óculos-contente não entrou.
hoje a menina-d’óculos-contente não entrou. pensei nela várias vezes esta manhã. penso nela ainda.
espero ansiosamente pelas oito de amanhã. para voltar à música dos outros e tentar agarrar invisivelmente a mão da menina que tem medo de ir sozinha. ela faz parte das minhas manhãs e não quero que lhe aconteça nada que a impeça de andar contente.
(ela não saberá nunca, mas preciso de continuar a vê-la contente. como se chamará a menina-d’óculos-contente?)
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
já uma vez aqui tinha posto este verso do Caeiro. mas hoje amanheceu assim na minha aldeia e não resisto.
o Sol disse bom dia e foi embora.
o Tejo, esse, cumpre todos os dias a sua missão. fica ali, ao meu lado, enquanto eu desço. tentando não pensar em nada, estando só ao pé dele.

terça-feira, novembro 14, 2006



e apenas os versos voam por entre todas as ruas estreitas...

quinta-feira, novembro 09, 2006

um dia destes tropecei numa frase de alguém que dizia haver apenas duas coisas que Portugal tinha e que mais ninguém tem igual: Fernando Pessoa e a luz de fim de tarde de Lisboa. Hoje saio de casa, olho para isto e compreendo uma vez mais.

domingo, novembro 05, 2006

em jeito de resposta:

a alma triste já não se desfaz.
refaz-se.
em versos. em maresia.
e em nuvens brancas.

quarta-feira, novembro 01, 2006

1 de Novembro.
2 coisas a assinalar:
este blog faz 1 ano.
fui à praia. sim. molhei-me e tudo.