terça-feira, janeiro 31, 2006

Ontem, dia 30 de Janeiro, às 23.58h nasceu a minha afilhada Maria Leonor (filha de uma menina de quem gosto tanto!...).
Eu estava lá. Partilhar o momento e olhar para ela com minutos de vida, literalmente a abrir os olhos para o mundo foi uma experiência... esmagadora!
Ela é linda!

domingo, janeiro 29, 2006

Sabem o que se vê da minha janela, na Rua dos Douradores, neste momento? NEVE!!!
Hoje, por volta das onze horas, estava assim um dos sítios mais bonitos de Leiria, a Senhora do Monte. Os meus sobrinhos estavam contentes!
Gostaria muito de ter estado aí com vocês!
Amo esses largos solitários, intercalados entre ruas de pouco trânsito, e eles mesmo sem mais trânsito que as ruas. São clareiras inúteis, coisas que esperam, entre tumultos longínquos. São de aldeia na cidade.

Bernardo Soares

sábado, janeiro 28, 2006

As Amoras

O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Eugénio de Andrade ("O Outro Nome da Terra")
Hoje fui ouvir poemas deste menino! Com uma música lindíssima do Bernardo Sassetti. Este também passou por lá e é especial!...
Parabéns à Teresa e Lena! E boa sorte!

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Doi-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.
Excusez du peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e de aspirina.

Álvaro de Campos, 14/3/1931

Entre a garganta inflamada, a otite e afónica, chegou a hora de partilhar este poema. Com todo o sistema do universo alterado, preciso de verdade e mebocaína.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Sobre a ordem da poesia

Sobre o que a poesia se não há-de pronunciar eu o sei:
sobre a coincidência das flores
sobre a natureza da alma
nunca sobre a natureza do dia
A poesia nasce e faz-se aqui neste fazer-se poesia
aqui onde a poesia toma as proporções da mensagem do dia
a esta luz mediterrânica
este sol
este céu
aqui a poesia se transforma no todo da natureza
e restitui ao convívio aquilo que ele não dá
...

(António Gancho, O ar da manhã)

Este é o post número 100. Podia aproveitar para fazer um balanço do que tem sido este espaço para mim (a minha lareira). Podia aproveitar para reflectir sobre o que quero disto. Podia falar sobre as minhas fotografias e de como a ausência de pessoas não é ausência... Podia explicar o que penso disso. Podia explicar o que quero dizer da tristeza e o que é para mim o poema-mote deste blogue. Podia lembrar que gosto que o comentem, que o visitem, de o sentir como uma lareira para os amigos. Todos. Os que conheço e os que não sei quem são. Os que dizem o que pensam. Não fiz isso. Partilhei uns versos do António Gancho sobre a ordem da poesia.

domingo, janeiro 22, 2006

E se a Baixa fosse um daqueles jogos de montar?
Apeteceu-me fazer uma Baixa de brincar!...

sábado, janeiro 21, 2006

Silence is as important as noise.
Pois!

terça-feira, janeiro 17, 2006

A Catwoman ofereceu-me esta fotografia hoje. Fala da nuvem gigante que quer comer a ponte. Como eu também gostaria de me esconder numa nuvem gigante às vezes!...

domingo, janeiro 15, 2006

A vida chega a doer, a enjoar
a cortar, a roçar, a ranger
a dar vontade de dar gritos,
de dar pulos, de ficar no chão

(Álvaro de Campos, Passagem das Horas)

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Hoje é dia de Passeio Pessoano.
Com os meus alunos.

quinta-feira, janeiro 12, 2006


"E sem ver, sem pensar, olhos fechados já sobre o sono ausente, medito com que palavras verdadeiras se poderá descrever um luar. Os antigos diriam que o luar é branco, ou que é de prata. Mas a brancura falsa do luar é de muitas cores."
(Bernardo Soares)

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Às vezes em tudo há silêncio e poesia...

Y un ruego en el alma

terça-feira, janeiro 10, 2006

Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo.
(Álvaro de Campos)

O Tejo ao fundo é um lago azul, e os montes da outra banda são uma Suíça achatada. Sai um navio pequeno – vapor de carga preto – dos lados do Poço do Bispo para a barra que não vejo. Que os deuses todos me conservem, até à hora em que cesse este meu aspecto de mim, a noção clara e solar da realidade externa, o instinto da minha importância, o conforto de ser pequeno e de poder pensar em ser feliz!

(Bernardo Soares)

domingo, janeiro 08, 2006

Gaivotas no Tejo. Em passeio de domingo.

sábado, janeiro 07, 2006


"- Logo se vê - respondeu D. Quixote - que não és versado em coisas de aventuras: são gigantes, sim; e se tens medo aparta-te daqui, e põe-te a rezar no espaço em que vou com eles me bater em fera e desigual batalha."
(D.Quixote de La Mancha, Miguel de Cervantes)

Vou ter saudades deste Gigante!
Até um dia destes!

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Não sei se ela sabe o que é um blog.
Apeteceu-me dar-lhe esta rosa.
Faz 61 anos hoje!
A minha mãe.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Caminho num céu de azul em chamas.
Título com céu.
Um antigo poema (de uma menina de quem gosto muito) de que hoje me lembrei...
Pus o meu sonho num navio

e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

(Clarice Lispector)

quarta-feira, janeiro 04, 2006


(Numa rua de Lisboa)
Há mais de meia hora
Que estou sentado à secretária
Com o único intuito
De olhar para ela.

Álvaro de Campos, Poemas
Minha memória é um rio caudaloso
Onde, às vezes, eu me vejo submersa,
Afogada, asfixiada.
É um rio de torrentes que me arrasta
E me joga de um lado para outro,
Contra rostos, mãos, casas, esperanças,
Idéias, planos, ruas, despedidas,
Montes, mares, angústias e caminhos,
Pernas, pés, praias, solidão...
Estendo as mãos, as margens longe...
E vou me debatendo
Até que a voz do tempo
E o correr dos dias
Me salvem de mim mesma
E me coloquem outra vez
Nas margens tranqüilas do esquecer.

Regina Werneck

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Meu coração é um pórtico partido dando excessivamente sobre o mar.
Vejo em minha alma as velas vãs passar e cada vela passa num sentido.

(Fernando Pessoa)
Os amantes sem dinheiro

Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

Eugénio de Andrade

domingo, janeiro 01, 2006



Céu. Lisboa. 1 de Janeiro de 2006.