domingo, junho 29, 2008

Caeiro

Gosto do céu porque não creio que elle seja infinito.
Que pode ter comigo o que não começa nem acaba?
Não creio no infinito, não creio na eternidade.
Creio que o espaço começa numa parte e numa parte acaba
E que agora e antes d’isso há absolutamente nada.
Creio que o tempo tem um princípio e tem um fim,
E que antes e depois d’isso não havia tempo.
Porque ha de ser isto falso? Falso é fallar de infinitos
Como se soubessemos o que são de os podermos entender.
Não: tudo é uma quantidade de cousas.
Tudo é definido, tudo é limitado, tudo é cousas.

Fernando Pessoa
Poema inédito, sem data, transcrito por Jerónimo Pizarrro, em 2008

2 comentários:

Anónimo disse...

I truly appreciate it.

4m3b@ disse...

Achei simpática a sua linha de pensamento ;)

Acho que não podemos provar que algo não existe. Podemos apenas assumir a existência de certas coisas e nos habituarmos a outras.

Talvez alguém ache o final do céu...