quarta-feira, junho 10, 2009

Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.


Luís de Camões

1 comentário:

Anónimo disse...

FM; Os sonetos de Camões parecem ser construídos de forma tão simples não é? A aparente simplicidade surpreende-me sempre, após a leitura das quadras e seus trilhos, aquilo a que chamo "a surpresa final" presente no terceto continua sempre a maravilhar-me... é poesia, (a cor verde faz mais sentido?) refrescante...