terça-feira, dezembro 27, 2005

Olhando o Tejo

Rebanhos além monte ela guardava
Seu canto me vem no vento trazido,
E uma ânsia pela sua mágoa

Enche o que em mim é indefinido.

Lagos de espírito murados de rochas
Dormem no vazio da sua toada.
A sua nudez ali se demora
A reflectir na sombra salpicada.

Mas o que há de real em tudo isto
É minha alma, a tarde, o cais somente
E como sombra dos meus sonhos disto,
A dor em mim de nova dor se sente.

Mas o que é ela que traz o pesar?
E o que há nela que o pesar desvanece?
Que rasto de amor é este bem-estar
Que segue o seu trilho, se desaparece?

Lírios há entre corações e mãos.
A vida é pequena ao pé do luar.
Mas movam-se um pouco as árvores que estão
E logo se espera que ela vá voltar.

(Fernando Pessoa, Poemas Ingleses, trad. de Luísa Freire)

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