terça-feira, dezembro 27, 2005

Um poema dorme em meu pensamento
Capaz de expressar minha alma inteira.
Vago eu o sinto, como som ou vento,
Mas já talhado em forma derradeira.

Nem estância ou verso ou palavra tem.
Tal como o sonho ele não tem lugar.
Um mero senti-lo, que difuso vem,
Como névoa feliz cercando o pensar.

Neste mistério noite e dia assim
Eu o sonho, o leio e o soletro,
E na berma das palavras sempre em mim
Parece pairar vago e completo.

Sei bem que ele nunca será escrito.
Também sei que não sei o que ele é.
Mas só de sonhá-lo, feliz já fico,
E ventura é ventura, falsa até.

(Fernando Pessoa, Poemas Ingleses, trad. de Luísa Freire)

Tinha de encontrar nas palavras dele tudo o que tenho dito...
Permaneço na berma das palavras. Sonhando-o. às vezes feliz, às vezes não. Com a minha alma inteira. À espera.

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