sábado, dezembro 03, 2005

Um mar rodeia o mundo de quem está só. É
o mar sem ondas do fim do mundo. A sua água
é negra; o seu horizonte não existe. Desenho
os contornos desse mar com um lápis de
névoa. Apago, sobre a sua superfície, todos
os pássaros. Vejo-os abrigarem-se da borrasca
nas grutas do litoral: as aves assustadas da
solidão. «É um mundo impenetrável», diz
quem está só. Senta-se na margem, olhando
o seu caso. Nada mais triste para além dele, até
esse branco amanhecer que o obriga a lembrar-se
que está vivo. Então, espera que a maré suba,
nesse mar sem marés, para tomar uma decisão.

(Nuno Júdice, Pedro, lembrando Inês, encontrado nos arquivos de http://barcosflores.blogspot.com )

1 comentário:

Anónimo disse...

O mar é muitas vezes refúgio e confidente de quem está na solidão...É como que um analgésico que nos acalma e que nos "adormece" a alma.Mas de repente acordamos para a realidade, e damo-nos conta que continuamos sós, sozinhos, na solidão...