quarta-feira, novembro 02, 2005

Porque hoje, numa biblioteca onde gosto muito de estar, tropecei neste pequeno livro, que adorei ler, aqui fica a provocação.


Todos os meus amigos escrevem. Excelente. Todos os meus amigos gostam de escrever. Formidável. Eu próprio não desgosto de escrever embora já não o faça. Escrever é bom. Escrever as palavras. Escrever as coisas. Escrever o mundo. O mundo dentro de nós. E o mundo fora de nós.
Todos os meus amigos escrevem. Todos os meus amigos são escritores. Todos os meus amigos fazem livros. [...]
Esta situação é preocupante. [...]
A doença é altamente contagiante. [...]
Até as crianças se põem a escrever. [...]
Inventam histórias, histórias, histórias [...]
Eu sou um leitor. Sei que sou: leio o que outros escrevem [...]
E você? Não sei se existe, caro/a colega de sobrevivência neste mundo em colapso. Se ler isto, é porque ainda existe, e então fica a saber que, algures no planeta, talvez mesmo na sua cidade, há alguém que partilha os seus medos, angústias, mas também as suas esperanças. E talvez possamos encontrar-nos, era mesmo bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto, para unir esforços, e procurar outros como nós: leitores imunes ao bicho da escrita. [...]

(Rui Zink, O bicho da escrita, Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, Abril 2004)

3 comentários:

Anónimo disse...

Agora JÁ VI TUDO!!!... É MUITO LINDO!!!... A menh'amiga tem muito jeito... É mesmo jeitosona. Força no estrumento e que os eventos não parem.
Embora talvez não seja o sítio apropriado, apetece-me continuar a mandar-lhe toneladas de beijocas.
Qual será o kelega (e não só kelega) que poderá ter feito este kementário?

C. (Carla Laranjeira) disse...

É um kelega maravilhoso! Que eu adoro!
Obrigada!

Anónimo disse...

A Biblioteca

Chegada a noite, volto a casa e entro no meu escritório; e, na porta, dispo a roupa quotidiana, cheia de lama e de lodo, e visto trajes reais e solenes; e, vestido assim decentemente, entro nas antigas cortes dos homens antigos, onde, recebido amavelmente por eles, me alimento da comida que é só minha, e para a qual nasci; onde eu não me envergonho de falar com eles e de perguntar-lhes as razões das suas acções. E eles com a sua bondade respondem-me; e, durante quatro horas, não sinto tédio nenhum, esqueço-me de toda a ansiedade, não temo a pobreza, nem a morte me assusta: transfiro para eles todo o meu ser.

(Nicolo Maquiavel, "Carta a Francesco Vettori")