quinta-feira, novembro 17, 2005

"Pauis de roçarem ânsias pela minh'alma em ouro... "
(Fernando Pessoa, Impressões do Crepúsculo, 29-03-1913)
Tanto tempo para chegar aqui. A sentir tanto esta Hora. A Hora do poema, que a Lua iluminou, que o Tejo vigiou, que a Presença e a Dor de certa forma ampararam. Ainda com lágrimas. Os sentidos do Transparente de Foi. Impressões de um Crepúsculo finalmente em mim. Em palavras rasgadas ao Tempo. E o Luar sobre o não conter-se...
Trepadeiras de despropósito. Talvez.
(sem imagem. nenhuma imagem da Lua será tão forte como a daquele dia... ainda aqui comigo)

3 comentários:

Anónimo disse...

O tempo da espera deixa de fazer sentido quando a própria espera se realiza... O importante é encontrar... Ainda que seja a lua da insatisfação... Mais uma vez.

Anónimo disse...

Hoje não me queria meter na poesia, mas a ideia de relógios de água é bonita (Clepsidra)


Crepuscolar

Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d'ais comprimidos...
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.
As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados,
Sentem-se espasmos, agonias d'ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas...
_ Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.
As tuas mãos tão brancas d'anemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
_ É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.

Camilo Pessanha

Anónimo disse...

AQUI ME ENCONTRO

Aqui me encontro
Animada apenas, na solidão
Pelo meu cigarro que em vão
Tenta iludir o conforto
Da multidão
E os papéis
Que nada me dizem em especial,
Apenas são um trabalho pontual
E que eu quero
Um dia esquecer, por sinal
E as ambições
Que nos correm na cabeça vertiginosamente
E que nos apertam o coração irreverente,
Por querer, simplesmente
Ser diferente
Mas neste momento
Só me posso, aos factos, resignar
E continuar a trabalhar
Para, sem demora,
Voltar a sonhar...

By:Autor Desconhecido